“Eu ficava dentro de casa, não queria mais contacto com as pessoas. Só pensava na morte”

Quando se fala em tomar-se uma atitude positiva diante da descoberta do estado serológico, muitas vezes se tem ignorado a possibilidade de existência de diversos factores que tornam o quotidiano do paciente num autêntico martírio. Um destes casos é o de uma jovem mulher, que paralelamente à descoberta do vírus, dera conta da série de problemas que colocaram o seu quadro clínico numa situação desafiadora, e requerente de imenso esforço pessoal e, não menos importante, a atenção dos mais próximos.

Sem tabus e nem receios, Avelina Sibanda, mãe solteira de 34 anos, residente no bairro da Munhava, cidade da Beira, aceitou quebrar o silêncio e partilhar com o público os contornos do drama vivido, desde que descobrira a série de problemas de saúde que acompanham até hoje o seu estado serológico positivo.

Mãe solteira de 4 filhos, Avelina é diagnosticada com HIV, em Maputo, onde se encontrava a residir quando os problemas de saúde iniciam. Descobre à mesma altura que estava também grávida e é lhe diagnosticado um condiloma acuminado, também conhecido com verruga genital/crista de galo, uma doença sexualmente transmissível, causada pelo Papilomavírus humano (HPV). A situação levou-lhe a tomar de decisão de imediatamente regressar à sua terra natal, Beira, numa altura em que o seu estado de saúde ia se agravando. No hospital central da Beira, também é lhe diagnosticada insuficiência renal e hipertensão.

A jovem não conseguira evitar que o seu quarto filho fosse infectado verticalmente com o vírus da HIV, sendo que nos cuidados aos seus petizes conta com a ajuda da sua irmã mais velha, de 41 anos, igualmente seropositiva, hipertensa e desempregada.

Ao longo desta odisseia, Avelina revela que a fraca capacidade de prover alimentação não só para os seus filhos, bem como para atender às necessidades do seu quadro clínico altamente exigente, tem sido um grande algoz diante da intensidade da medicação que toma. Conta que vezes sem conta viu se inclusive impossibilitada de se locomover, mesmo para o hospital, por estar fisicamente fraca.

AMDEC surge num momento de completo desespero


A paciente é desde o início do presente ano beneficiária da AMDEC, através do projecto Acesso Universal aos Serviços de Saúde de Qualidade, uma iniciativa envolve cuidados domiciliários integrados na comunidade. Revela que tem valido muito a ajuda dos activistas da AMDEC, que muitas vezes a tem provido recursos para adquirir bens alimentares, bem como transporte para se fazer as consultas regulares no hospital.

Tem valido para a sobrevivência familiar uma pequena machamba, que está sob cuidados dos seus dois irmãos mais novos, que não puderam prosseguir com os estudos e ter empregos formais. Para além da machamba, os dois jovens recorrem a pequenos trabalhos caseiros e de construção civil.

A presença e atenção da AMDEC tem se revelado de extrema importância, e chegou numa altura em que Avelina começava a ceder ao desânimo diante da série de problemas que a impossibilitavam de sonhar com dias melhores.

“Eu ficava dentro de casa, não queria mais contacto com as pessoas fora. Quando os activistas da AMDEC chegaram, tive um grande incentivo moral, o que me motivou a ser mais assídua ao hospital e a seguir o tratamento. No início achava chato, pois pensei que as conversas nao fossem relevantes e que o que mais me interessava era que me ajudasse em comida. Mas o apoio psicológico que prestaram foi decisivo. Numa altura em que eu, diante de toda situação de doenças, fome e incapacidade de dar melhor cuidado ao meu filho, ponderava morrer”Avelina Sibanda


Avelina recuperou o ânimo de conviver em sociedade, assumindo uma postura positiva, e que tem se envolvido em actividades na igreja, o que a ajuda a aliviar a tensão em volta do drama vivido.

Anseia que os seus irmãos tenham empregos estáveis, e que possam ter ajuda alimentícia, muito por conta das crianças e do tratamento que é nutricionalmente exigente.